Aprendemos a ser e a nos tornar homens ou mulheres, gênero fluido, neutro, não binário, entre outros arranjos identitários, de acordo com as normas e expectativas sociais, construídas ou impostas culturalmente, a partir de estratégias de sobrevivência, negociações, disputas, embates ou possibilidades. Passo a relatar algumas cenas do cotidiano que nos ajudam a problematizar e a refletir sobre as complexas e delicadas relações, de poderes e de saberes, como diria o “velho Michel Foucault”, em diálogo com as nomeadas pedagogias do corpo, pedagogias do gênero e pedagogias da sexualidade, inauguradas pela historiadora gaúcha Guacira Louro. Não precisa concordar, é a realidade. Contém ironia.
Marcas do corpo, marcas de poder
1. Como, e quando, os homens irão aprender a ser pais? Veja a diferença entre as licença maternidade e paternidade, um absurdo. Sem contar nos brinquedos e brincadeiras infantis ou temas de festas de aniversário. O clichê do clichê.
2. Mulheres, negros e a comunidade LGBT precisam provar muito mais competência e enfrentam maiores – todos – os desafios para estudar e para conseguir um trabalho razoável do que as demais pessoas. Sem falar na ocupação dos cargos de gestão, constituição de chapas competitivas e/ou para indicações sociais de lideranças políticas.
3. A maioria de discentes no Ensino Superior são mulheres, mas a maioria dos professores universitários, são homens. Ainda? Helooooo!
4. Trabalhei por anos em um grupo de terceira idade com 80 idosos. Havia três homens. Dois não faziam ginástica ou dança e morreram antes que as mulheres. O outro foi o presidente do grupo por mais de 10 anos. Coincidência?
5. As mulheres ainda são a maioria na área da Pedagogia e nos cursos de licenciaturas no Brasil. Mulher, cuidadora, mãe, sensível e dedicada. Homens sentem-se “mais” empoderados na área de ciências rurais e das engenharias. Ainda?
6. Mulheres nos “recursos humanos” ou na gestão de pessoas e homens na área financeira. Gráficos, tabelas, eles adoram estatísticas.
7. Quando o homem entra no “universo feminino”, ele rouba a cena e é mais valorizado do que as mulheres. Quem ensina as misses, rainhas ou manequins a desfilar?
Homens. Quem são os famosos coreógrafos de dança, teatro ou cinema? Homens. A mulher é cozinheira, o homem virou “chef” de cozinha.
Ninguém percebe isso?
Vamos sonhar?
Eu desejo um mundo (uma cidade, um bairro, uma família...) que as mulheres possam se apoiar umas às outras, em diferentes situações. Desejo que os homens possam ser empregados domésticos, que mulheres possam ser escritoras, cientistas, casar mais de três vezes, não ter filhos. Que pais possam exercer e dar afeto aos seus filhos e não abandoná-los. Chega de violência com a comunidade LGBT.